Estamos na Quaresma de 2014 e
logo nos colocamos diante da temática da Campanha da Fraternidade, que vai nos
fazer apelos de conversão pessoal, comunitária e social. “Fraternidade e
Tráfico Humano” é o tema e a Carta de São Paulo aos Gálatas nos sugere o lema:
“É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1). A Campanha da
Fraternidade é um convite para nos convertermos a Deus e irmos ao encontro dos
irmãos mais necessitados e sofredores, sugerindo em cada ano um assunto que
afeta diretamente a dignidade humana ou a vida em sentido geral.
Em 2014 ocupa-se com todos
aqueles e aquelas que são enganados e usados para o tráfico humano, de
trabalho, de órgãos e a prostituição. Normalmente o crime organizado está por
detrás das diversas modalidades de tráfico humano. As pessoas, geralmente, são
atraídas com falsas promessas de melhores condições de vida em outras cidades
ou países e ali são cruelmente usadas e escravizadas, gerando fortunas para
consciências inescrupulosas e vorazes. A maioria das pessoas traficadas vive em
situação de pobreza e grande vulnerabilidade. Isso facilita o aliciamento com
falsas promessas de vida melhor.
Por isso, o cartaz da CF
retrata essa situação degradante com a figura de mãos acorrentadas e estendidas,
com diferentes idades, gênero e cor, em estado de impotência. A mão que
sustenta a corrente da escravidão é a força coercitiva de pessoas que dominam e
exploram esse tráfico humano: “Essa situação rompe com o projeto de vida na
liberdade e na paz e viola a dignidade e os direitos do ser humano à imagem e
semelhança de Deus” (CF 2014 – Explicação do cartaz – contracapa). Os cristãos
não podem aceitar essa moderna forma de escravidão e desrespeito à dignidade
humana. Por isso eles a tentam identificar, a denunciam e somam forças para
evitá-la, rompendo as correntes, revigorando as pessoas dominadas por esse
crime e apontando para a esperança de libertação: “Essa esperança se nutre da
entrega total de Jesus Cristo na cruz para vencer as situações de morte e
conceder a liberdade a todos: ‘É para a liberdade que Cristo nos libertou’”
(Ibidem).
O Papa Francisco se referiu à
prática do tráfico humano com palavras de veemente repúdio: “O tráfico de
pessoas é uma atividade desprezível, uma vergonha para as nossas sociedades que
se dizem civilizadas”. O pontífice, em Lampedusa – Julho de 2013, ainda nos
alertou para a globalização da indiferença, habituando-nos em relação ao
sofrimento dos outros, não o considerando responsabilidade nossa: “Peçamos ao
Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, de chorar pela crueldade que
há no mundo, em nós, incluindo aqueles que, no anonimato, tomam decisões
socioeconômicas que abrem a estrada a dramas como este” (Cf. Manual da CF –
2014, Apresentação, p. 8).
Sensibilizados com as palavras
do Papa Francisco, assumamos mais uma vez o tema da Campanha da Fraternidade e
rezemos para que nosso ser e agir sejam abençoados pelo Senhor, que deu sua
vida para salvar a todos.
Dom Aloísio Dilli
Bispo de Uruguaiana (RS)